25.7.23

Sobre o Artigo “As evidências de que Jesus teria tido mais do que 12 apóstolos”, do G1

 

No dia 24 de julho de 2023, o G1 trouxe um artigo assinado por Edison Veiga, da BBC, sugerindo que os pesquisadores apontam que o número de 12 apóstolos é mais simbólico do que um relato exato da realidade.

Eis o link: https://web.archive.org/web/20230725040734/https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/07/24/as-evidencias-de-que-jesus-teria-tido-mais-do-que-12-apostolos.ghtml

O texto afirma que tal número 12 de apóstolos foi “Uma construção posterior à vida de Jesus que serviu para fundamentar a hierarquia dentro da comunidade dos cristãos primitivos.”

O artigo também trouxe um comentário do historiador André Leonardo Chevitarese, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que dizia: “Sobre a questão dos 12: eu diria que há uma forte tendência a ser uma representação simbólica, baseada nos 12 filhos de Jacó, nas 12 tribos de Israel [clãs familiares do antigo povo hebreu], ou mesmo em outras tradições. “Se de fato Jesus fez 12 apóstolos entre os seus seguidores, isso é disputável em termos de tradições manuscritas”.

O que queremos ver é se dentro dos textos bíblicos é realmente disputável que Jesus fez 12 apóstolos, porque se for olhar fora dele, realmente a evidência míngua bastante, mas afinal de contas, se for para não dar crédito ao texto bíblico, então é mais fácil dizer que nem sequer existiram apóstolos nenhuns.

Os historiadores consultados pela BBC estão um tanto confusos. Eles mesmos citam um trecho da carta de Paulo aos Coríntios, a primeira das duas, que diz o seguinte sobre o senhor:

1 Coríntios 15:5:E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze.”

Chevitarese vê ali um problema que não existe. O mesmo problema que viram alguns tradutores e copistas. Achavam que era errado dizer que Jesus apareceu aos 12, porque Judas já havia caído e o 12º apóstolo ainda não havia sido reposto.

Por isso, diz a BBE (Bible in Basic English, 1965):

And he was seen by Cephas; then by the twelve;

A Vulgata Latina e outros manuscritos também falam em 11. Mas o número ali no texto original parece mesmo ser a δώδεκα (doze).

 Paulo não sabia que tinha havido um traidor”, comenta Chevitarese. Parece incrível que um historiador se entregue tão facilmente à invenções de sua própria mente. Que evidência há de que Paulo, exímio estudioso, não averiguou o básico sobre os acontecimentos envolvendo o Cristo? Além de ser amplo conhecimento dos cristãos ainda vivos, Mateus havia escrito seu evangelho com 10 anos ou mais de antecedência em relação às epístolas paulinas. Não há motivo nenhum para crer numa afirmação desvinculada dessa, de que Paulo não sabia que Judas havia sido um traidor.

Mas o mais importante a se declarar aqui é o que o corpo de apóstolo passou a ser chamado de “os doze”. Mesmo que numericamente não havia doze, o nome daquela associação se manteve. (ver apêndice 1.)

Está aí, de qualquer forma, a ideia dos 12. Mas é a única vez que Paulo menciona isso em suas sete cartas, todas datadas da mesma década”, afirma Chevitarese. Mas, e o que é que tem? Se está aí, está. E porque Paulo não cita os doze com mais freqüência? O próprio artigo publicado no G1 responde isso:

“Moraes acredita que tenham sido 12 os formadores do núcleo principal dentre os que acompanhavam Jesus, dado o simbolismo.”

Aí está algo a se prestar muita atenção: Os 12 formaram um núcleo inicial ao redor do qual o cristianismo se organizou no seu início, mas não por muito tempo. Em Atos capítulo 15, quando o apóstolo Paulo teve um desentendimento com cristãos fariseus em Antioquia sobre os gentios que se cristianizaram, seu caso foi ouvido em Jerusalém pelas principais lideranças cristãs. E quem eram elas, os 12 apóstolos? Não mais, pelo menos não só eles. Junto com os apóstolos, Atos 15:6 diz que o assunto foi considerado também por anciãos. Ou seja, o núcleo de autoridade estava migrando do grupo dos 12 para outro grupo maior, que ainda incluía os 12.

Curiosamente, a partir do versículo 13 de Atos capítulo 15, quem tomou a palavra, depois de realizada as discussões, foi Tiago, meio irmão de Jesus, que pareceu presidir aquele encontro. Ele pronunciou a decisão coletiva e providenciou que a esta fosse entregue às congregações.

Havia um núcleo inicial de 12 apóstolos designados por Jesus, mas esse núcleo já não tinha a mesmíssima importância nos dias de Paulo, e por isso ele não cita tanto os 12, e quando o faz, fala em retrospectiva, não o faz mencionando um ocorrido do momento.

Mais tarde, o texto publicado no G1 fica um tanto mentiroso, quando diz:

Quando a leitura é dos evangelhos — os quatro livros bíblicos que narram a vida de Jesus —, a situação se torna ainda mais complicada. “Isto porque só um autor do material neotestamentário mencionou o que exatamente seriam esses 12”, pontua Chevitarese. “Isso você vai encontrar em Lucas, capítulo 6. É um livro comumente datado como sendo dos anos 90, do final do primeiro século.”

Ou seja: é um relato já escrito sob a “contaminação ideológica”, intencional ou não, de uma igreja primitiva que surgia. E o autor não havia presenciado, ele próprio, os episódios que narrava.

Não é assim. O evangelho de Mateus, datado comumente como sendo de cerca de 40 d.C.m menciona no capítulo 10 os 12 apóstolos por nome, da mesma forma que Lucas 6 o fez. Em Marcos Capítulo 3 se dá o mesmo. Chevitarese parece ter se esquecido de procurar na própria Bíblia o que o material neotestamentário menciona.

Depois o artigo contrasta os apóstolos com os seguidores. Apóstolos eram seguidores, mas nem todo aquele que seguia a Cristo era um apóstolo. Comenta o artigo:

Mas quantos de fato seguiam Jesus? Para Chevitarese, “era um movimento muito pequeno e intrajudaico”. “Não estamos falando de um candidato messiânico que arrastava multidões. Jesus era uma liderança popular situada basicamente no ambiente galileu e movimentava um pequeno número de aderentes”, analisa.

Mateus tem um relato diferente de Chevitarese:

Mat 9:36  E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor.

Não era um movimento que se dava basicamente no ambiente Galileu, já que foi nas proximidades do templo que Jesus foi saudado com palmas. Isso em Jerusalém, muito longe da Galiléia.

Uma pista sobre quantos eram esses pode ser encontrada também na carta de Paulo aos Coríntios, pois logo na sequência ao trecho em que ele menciona os 12, ele afirma que Jesus também teria sido visto por “mais de 500 irmãos de uma só vez”.

 

Apóstolo ou discípulo — e uma apóstola mulher

 

Sob o subtítulo acima, o artigo entra etimológica, parecendo ter dificuldade em entender o que são apóstolos e discípulos. Os primeiros são um grupo seleto dentro do segundo. Diz o artigo:

Mas se a fonte mais antiga para legitimar a existência dos 12 é Paulo, o mesmo Paulo indica que havia outros apóstolos — assim chamados. Inclusive mulheres.

Nesse ponto, retorna ao erro de não ter lido com cuidado o que Mateus e Marcos disseram, voltando ao engano de afirmar que somente o posterior relato de Lucas menciona os 12. Mateus precede as epístolas paulinas.

Daí, o artigo continua:

Na carta aos Romanos, também dos anos 50, ele saúda o casal “Andrônico e Júnias, meus parentes e meus companheiros de cativeiro”. E diz que os dois “são apóstolos eminentes e pertenceram a Cristo mesmo antes de mim”.

“Ele, Paulo, está dizendo que esses caras notáveis ali estavam entre os apóstolos. E tem mulher aí, a Júnias”, comenta Chevitarese. “Ela era uma apóstola.”

 

Este é Romanos 16:7. Acredito que o leitor entenderá melhor o que Paulo quis dizer, ao ler o próprio versículo em três traduções em português:

 (João Ferreira de Almeida Atualizada, 1877 )  Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e meus companheiros de prisão, os quais são bem conceituados entre os apóstolos, e que estavam em Cristo antes de mim.

(Tradução do Novo Mundo)  Saudações a Andrônico e a Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, que são homens bem conhecidos pelos apóstolos e estão em união com Cristo mais tempo do que eu.

(VIVA)  Depois, há ainda Andrônico e Júnias, meus parentes, que estiveram comigo na prisão. Eles são respeitados pelos apóstolos, tendo-se tornado cristãos antes de mim. Peço que lhes transmitam minhas saudações.

Veja mais traduções no apêndice 2.

EU trabalhei numa empresa onde eu era bem conceituado entre os diretores dela, mas isso não tornou obrigatoriamente um diretor. Andrônico e a Júnias eram bem conceituados entre os apóstolos, mas não eram apóstolos. Se sofreram encarceramento, como Paulo menciona, os apóstolos só poderiam tê-los em alta estima mesmo.

Depois disso, o artigo começa a falar de mulheres seguidoras de Cristo, algo que nada tem que ver com o apostolado. Seguidoras tinham, e muitas. Maria e Marta, por exemplo, eram mais duas delas. Citar tais mulheres, como Maria mãe e a Madalena só mostra quão confusos estão autor do artigo e pesquisadores. A confusão deles é tanto que o artigo continua assim:

O historiador Chevitarese avalia que a ideia do grupo seleto dos doze pode ter sido “uma invenção de Lucas mesmo”. “Porque em Atos [o livro Atos dos Apóstolos, também escrito por Lucas, que narra os primeiros passos do movimento depois da morte de Jesus], ele vai criar, vai inventar a tradição apostólica”, contextualiza.

Correndo o risco de ficarmos entendiantes, relembramos que Mateus e Marcos já falaram dos 12. Mas o mais incrível mesmo é que o próprio Chevitarese menciona Paulo citando os 12 em 1 aos Coríntios, muito tempo antes da escrita de Lucas. Então Lucas inventou os 12, voltou no tempo, e passou a informação para Paulo?

Voltando ao título do artigo, “As evidências de que Jesus teria tido mais do que 12 apóstolos”, podemos dizer que vimos aqui um artigo de gente confusa, que não sabe diferenciar apóstolo de discípulo ou seguidor. A propósito, Apóstolo significa “enviado”, e sim, houve um apóstolo além dos 12. Paulo, apóstolo das nações, porque foi enviado para pregar as nações. Ele,obviamente, não era um dos 12 do núcleo inicial.


Apêndices

1)      Os doze de 1 Corintios 15:5:

 

Then of the twelve - Instead of δωδεκα, twelve, ενδεκα, eleven, is the reading of D*EFG, Syriac in the margin, some of the Slavonic, Armenian, Vulgate, Itala, and several of the fathers; and this reading is supported by Mar_16:14. Perhaps the term twelve is used here merely to point out the society of the apostles, who, though at this time they were only eleven, were still called the twelve, because this was their original number, and a number which was afterward filled up. See Joh_20:24. –

Adam Clarke's Commentary on the Bible

 

Then of the twelve - The apostles; still called “the twelve,” though Judas was not one of them. It was common to call the apostles “the twelve.”

Albert Barnes' Notes on the Bible

 

 

2)     2) Mais traduções de Romanos 16:7

(Almeida Fiel ao Texto)  Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos e que foram antes de mim em Cristo.

(American Standard Version)  Salute Andronicus and Junias, my kinsmen, and my fellow-prisoners, who are of note among the apostles, who also have been in Christ before me.

(Contemporary English Version)  Greet my relatives Andronicus and Junias, who were in jail with me. They are highly respected by the apostles and were followers of Christ before I was.

(English Standard Version)  Greet Andronicus and Junia, my kinsmen and my fellow prisoners. They are well known to the apostles, and they were in Christ before me.

(Rei Jaime) Salute Andronicus and Junia, my kinsmen, and my fellowprisoners, who are of note among the apostles, who also were in Christ before me.

 


21.9.21

O Inferno existe? - Argumentação a respeito do vídeo do Canal "Vai na Bíblia"

 Esse artigo tem a intenção de fazer todos aqueles que gostam de “Ir na Bíblia” repensar alguns dos argumentos colocados no vídeo O Inferno existe? | Esdras Saviolique está no canal do Youtube “Vai Na Bíblia”

Começamos dizendo quão prazeroso é ver uma pessoa jovem tão interessada em artigos bíblicos, ao ponto de aprofundar-se como Savioli fez. No entanto, entendemos ser vital colocar contrapontos importantes na argumentação dele. E é o que faremos a seguir, acompanhando a argumentação dele no vídeo.

No entanto, se você não guarda interesse por uma análise de tradução e significado de palavras, peço que pelo menos leia os dois último substítulos:

·         Porque o inferno como vida eterna em sofrimento no sentido comum da palavra não é bíblico

·         Deus poderia ter criado um inferno para sofrimento eterno dos impenintentes?


Sheol e Hades

Passando dos 1:10 de vídeo, Savioli comenta algo importante e correto: Sheol hebraico, do Antigo Testamento, não é inferno. Este é um entendimento importante, porque a Vulgata Latina traduziu como inferno a palavra Sheol, e depois a própria Vulgata foi base para muitas traduções aos idiomas hodiernos. Veja o Salmo 9:17:

(Vulgata)  convertantur peccatores in infernum omnes gentes quae obliviscuntur Deum

(Almeida atualizada)  Os ímpios irão para o Seol, sim, todas as nações que se esquecem de Deus.

(Almeida Corrigida, Fiel ao Texto)  Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus.

(Nova Versão Internacional)  Voltem os ímpios ao , todas as nações que se esquecem de Deus!

(Sagradas Escrituas Versión Antigua)  Los malos volverán al sepulcro; todos los gentiles que se olvidan de Dios.

A palavra hebraica Sheol foi sublinhada, nas diversas traduções acima. O leitor mais desavisado poderá ler no Salmo 9:17 que o ímpios irão ao inferno e pronto. Ele leu na Bíblia dele. Mas a palavra grega tinha outro sentido. Conforme explicado no vídeo por Savioli, os que estão no Sheol não estão no inferno, nem estão conscientes (Eclesiastes 9:10). O mesmo erro ocorreu com a tradução da palavra grega Hades.

 

Geena

Depois de 1:45, Savioli diz que Geena não é inferno, “supondo tratar-se de um lugar onde se queimava lixo fora de Jerusalém”.

A Geena era o vale de Hinom. Em hebraico era גי הנם (geh hin·nóm); o nome foi helenizado para γέεννα (gé·en·na) e por fim foi latinizado para ge·hén·na. O local foi citado na Bíblia no Velho Testamento em lugares como Josué (15:8) ou 2 Reis (23:10). O histórico do lugar não é o mais importante, mas sim, o que Jesus tinha em mente ao citá-lo, porque como disse Savioli, “(...) Jesus sempre usava coisas do cotidiano para ilustrar uma verdade espiritual”.

O que as pessoas entendiam por Geena no cotidiano? A pergunta é pertinente, porque se elas entendiam Geena de um jeito e Jesus estava usando o termo para um entendimento diferente, se perderia a vantagem de usar coisas do cotidiano, técnica cuja função é ajudar, por analogia. Veja como essas obras descrevem a Geena:

Smith’s Dictionary of the Bible (Boston, 1889, Vol. 1, p. 879.) "Tornou-se o depósito de lixo comum da cidade, onde se lançavam os cadáveres de criminosos, e as carcaças de animais, e toda outra espécie de imundície." 

Novo Comentário Bíblico (página 779, em inglês) "Geena era a forma helenizada do nome do vale de Hinom em Jerusalém, no qual se mantinham constantemente fogos acesos para consumir o lixo da cidade. Este é um poderoso quadro da destruição final."

The New Funk & Wagnalls Encyclopedia (Nova Iorque, 1950, Vol. 15, p. 5576) "Visto que alguns israelitas sacrificavam ali seus filhos a Moloque, o vale veio a ser considerado como lugar de abominação. Num período posterior foi transformado num lugar onde se jogava o lixo, e perpetuavam-se os fogos para impedir uma pestilência." 

Sim, o vale estava ligado ao fogo. O rei Acaz chegou a sacrificar seus filhos ali, queimando-os. O rei Manassés fez o mesmo. Depois o fogo continuou por ali, quando os judeus passaram a usar o local como destino de lixo da cidade.

Agora pare e pense.  As pessoas dos dias de Jesus conheciam uma Geena (vale de Hinom) que servia como lugar para depositar e eliminar lixo. Talvez um judeu tivesse algo que no momento não servia, mas ele ainda quisesse guardar para uso futuro, então isso ele não lançaria na Geena. Mas e quanto a um móvel quebrado ou animal morto? Não tendo mais uso pra isso, a intenção agora era eliminar o lixo. Fazê-lo sumir. O que melhor do que o fogo para tal fim? Até em dias modernos muitas pessoas queimam o que não querem mais, pois é um modo eficiente de eliminar o que não presta pra mais nada.

Até mesmo cadáveres de criminosos eram lançados lá, conforme mencionou uma das obras antes citadas. Mas pare e pense... os mortos eram lançados lá na Geena para sofrer punição, ou somente para serem eliminados? Os criminosos eram lançados lá já mortos. Era uma eliminação, não uma punição em vida, para sofrer. Havia uma punição no sentido de nem ter um enterro digno, mas o criminoso já estava morto o ser lançado na Geena. O próprio lixo era lançado na Geena para sofrer punição, ou apenas para ser eliminados? Que ligação os judeus fariam com a ideia de Geena?

Seu eu fizesse uma ilustração e dissesse para todos pegar o preconceito e eliminar, por jogar na lixeira, e esperar o caminhão de lixo levá-la embora, não entenderia você que a ideia era “desfazer-se por completo” do preconceito? Eliminá-lo por completo, sem permitir que volte?

Tendo os judeus uma Geena para seu depósito e eliminação de lixo, que analogia Jesus oferecia ao falar de cuidar para não ser lançado na Geena? Cuidar para não ser descartado como lixo, de uma vez por todas? Ou cuidar para não ir para um lugar de sofrimento eterno? 

Não... nada ou ninguém era lançado na Geena daqueles dias para sofrer, mas sim, par ser eliminado. Pense nisso, e relembre a frase dita por Savioli, “(...) Jesus sempre usava coisas do cotidiano para ilustrar uma verdade espiritual”.


A pior dor que já sentimos... intensificada e sofrida eternamente

Depois de 3 minutos de vídeo, Savioli pede para pensarmos na pior dor que já sentimos na vida, física ou emocional. Ele alega que no inferno, tais dores serão intensificadas e prolongadas. Muitas pessoas já sentiram um desespero tão forte, que chegaram a tentar o suicídio. A dor emocional pode ser insuportável. E Savioli diz que Deus irá intensificar essa dor quando lançar um ímpio no inferno. Dias atrás encostei meu dedo rapidamente na chaleira fervente. Foi uma dor incrivelmente forte. Somente um ser cruel intensificaria e prolongaria uma dor assim.

Quem conhece Deus de verdade, sabe que ele é o ser descrito em 1 João 4:8. O mesmo ser que amou tanto o mundo, que mandou seu filho Jesus para nos salvar. Savioli comenta mais para frente que não temos direito de questionar Deus, que ele pode tudo, como soberano. Poder para fazer tudo ele tem, soberano de tudo Ele é. Mas se ele fosse um Deus que intensificasse nossas dores por tempo ilimitado, um Deus de amor ele não seria. As duas situações são inconciliáveis. Por exemplo, Deus teria o poder de mentir quando quisesse, mas se o fizesse não seria um Deus que não pode mentir, como Ele mesmo se descreve.

Logo, por uma questão não somente bíblica, mas de lógica, ele não pode ser um Deus de Amor e ao mesmo tempo um Deus que planejou o futuro dos malfeitores num tormento terno de dores inimagináveis.


Mateus 10:28

Por volta de 3:30, Savioli cita Mateus 10:28 que fala:

(Almeida Corrigida, Fiel ao Texto)  E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.

Algumas versões usam “destruir” no lugar de “fazer perecer”. Savioli usa aqui um argumento que não está errado em si, mas que não é conclusivo. Destruir não significa obrigatoriamente fazer cessar a existência. Mas relembramos que Destruir também pode significar isso, fazer cessar a existência.

A palavra em questão é ἀπόλλυμι (apollumi) – palavra G622 no dicionário de Strong, que pode significar perecer, morrer, ser destruído (Veja apêndice).

Então temos uma palavra que pode significar:

a)      Perder o propósito para o qual algo foi feito. Uma casa destruída ainda pode existir, conservando parte do que fora um dia, mas sem oferecer condições para moradia.

b)      Perecer: Cessar de viver, morrer.

Do que o Mateus 10:28 parece estar falando? Almeida preferiu o termo “fazer perecer” talvez porque o próprio versículo dá indícios do significado de apollumi. O texto começa falando sobre “matar o corpo”. Alguém pode nos matar nessa vida terrena, mas não perecemos para sempre enquanto estivermos na graça de Deus. Se o texto está falando de “matar o corpo”, deve estar falando depois, na sua comparação, de “matar a alma e o corpo (fazer perecer)”, ou seja o próprio versículo nos induz a usar a interpretação B acima.

 

2 Tessalonicenses 1:9

Logo em seguida, o vídeo apresenta 2 Tessalonicenses 1:9. Apesar de o vídeo não mencionar qual versão bíblica foi ali usada, a Nova Versão Internacional usa essa forma de traduzir.

(NVI)  Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder.

Mas é importante que o leitor veja outras traduções do versículo:

(Almeida Corrigida, Fiel ao Texto)  Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder,

(Almeida, Revista e Atualizada, 1993)  Estes sofrerão penalidade de eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder,

Porque essas estruturas do versículos são importantes de ser observadas? Porque o argumento de Savioli reside no fato de que o texto, como na versão que ele apontou, parece conter uma redundância, conforme explicaremos:

Se a parte “Eles sofrerão a pena de destruição eterna” está falando de morrer eternamente, então é claro que o destruído estaria separado da presença do Senhor. Ora, então porque seria necessário o acréscimo pós-vírgula “a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder”, na versão NVI? Seria uma informação redundante, o que, segundo Savioli, obrigaria entendermos a pena num sentido diferente, não como morte eterna, mas como destruição no sentido que ele já explicou antes. Quem estaria separado do Senhor, estaria destruído, de certa forma... diminuído do seu propósito.

No entanto, a NVI traduziu mal o texto. Desde o versículo 6, Paulo está explicando em 2 Tessalonicenses capítulo 1 que Deus vingaria os santos, trazendo vingança por meio do Senhor Jesus, que viria e eliminaria os ímpios da sua frente. Porque os ímpios seriam “banidos da face do Senhor”, ou padeceriam “ante a face do Senhor”? Porque o Senhor viera e estava ali, para bani-los ou castigá-los. O castigo não era estar separado da presença do Senhor, como sugere a NVI usada por Savioli. O castigo era a destruição eterna... a perdição eterna. A face do Senhor e sua Glória são mencionadas porque ele veio resolver esse assunto, então os ímpios acabaram ficando antes sua Face, e depois eliminados de diante dele.

Esse lapso na compreensão do contexto do versículo comprometeu o entendimento de Savioli, e inclusive de alguns tradutores, incluindo-se aí muitas bíblias em inglês. Não há a redundância alegada no vídeo se o versículo for entendido corretamente. Se você reler o texto conforme traduzido pela Almeida Corrigida, Fiel ao Texto, perceberá bem o que estamos comentando.

 

Morte: Significado literal e simbólico

Perto de 4:35, o vídeo menciona um significado interessante, e porque não dizer, muitas vezes verdadeiro para morte. Nem sempre a morte bíblica é a morte literal, algumas vezes ela se refere à separação de Deus, como o vídeo acertadamente menciona. Mas que o leitor atente para o fato de muitas vezes a morte bíblica é sim a morte literal, no sentido mais comum da acepção. Há um salto de lógica quando Savioli diz que a morte TAMBÉM significa estar separado de Deus, e depois, quando falamos de Segunda Morte (Apocalipse 20:14) ele assume esse possível significado como único significado.

Se a morte no Novo Testamento também, e principalmente, é a morte literal, a Segunda Morte pode sim significar uma morte literal. Então, o vídeo chega a fazer uma acusação não somente forte, mas injusta e curiosa, porque chama o tendencioso do vídeo chama de tendencioso quem entende diferente da interpretação dele. Ora reveja os argumentos: Morte na Bíblia pode ser simbólica (estar separado de Deus) ou literal (morrer mesmo). Ele diz que UMA das interpretações para morte é a simbólica, mas chamada de tendencioso quem entende a Segunda Morte como uma morte literal. Oras, a morte bíblica tornou-se obrigatoriamente simbólica?

Kolasin: Punição Eterna

Ao comentar Mateus 25:46 Savioli usa novamente uma versão que emprega a expressão “tormento eterno”. Vale a pena tentar entender o que as palavras gregas comunicavam. Infelizmente, o vídeo decidiu se concentrar no grego “aionion”. Aionion não era o problema, mas sim, a palavra “kolasin”.  Kolasin se refere à punição que alguém merecia. Podia ser acompanhada de tortura, por isso kolasin podia falar apenar de uma prisão, ou de um castigo corporal.

Um “kolasin eterno” poderia ser uma punição eterna, como uma prisão eterna ou uma morte eterna, por exemplo, ou um castigo/tormento eterno. Era “kolasin” a palavra grega que o vídeo deveria estudar com mais cuidado. Veja como o versículo foi traduzido algumas vezes:

(Almeida, Revista e Atualizada, 1993) E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.

(American Standard Version)  And these shall go away into eternal punishment: but the righteous into eternal life. (punição eterna)

(Darby)  And these shall go away into eternal punishment, and the righteous into life eternal. (punição eterna)

(INR)  Questi se ne andranno a punizione eterna; ma i giusti a vita eterna". (punição eterna)

O que é a morte eterna, senão uma punição eterna? Um texto que o vídeo aponta como um grande problema para os que apóiam nossa visão, na verdade não representa problema nenhum. Infelizmente, como dissemos, o vídeo fica implicando com a palavra grega “aionion”, que não é o cerne da questão.

Assim como comentamos em Mateus 10:28, o texto aqui deixa claro um contraste vida eterna/punição eterna. O antônimo mais apropriado aqui para vida seria a morte. A punição poderia ser a morte ou o tomento. Não é um argumento conclusivo, como o do vídeo não foi, mas a antítese de vida apontaria com mais propriedade para morte do que para tormento.

Kolasin aionion – punição eterna, contrastando com

Zoen aionion – vida eterna

Ao rever o vídeo, lembre-se das traduções acima colocadas; não aceite que a tradução apontada pelo vídeo é a única possível, como talvez o vídeo quis fazer parecer.

 

Mateus 18:8

Sobre fogo Eterno de Mateus 18:8, vale a pena entendermos de uma vez por todas uma simbologia bíblica, que servirá para entendermos Lago de Fogo, Geena (que tinha fogo), e o próprio texto de Mateus 18:8.

Quando uma profecia em Isaías mencionou um julgamento contra os edomitas, a palavra profética mencionou rios cheios de pez ardebte (piche), enxofre e fumaça que não se apagariam para sempre. Claro é que ninguém vai hoje naquelas terras hoje e vê uma fumaça que nunca parou desde aqueles dias. Qual é o ponto aqui então?

O fogo ardente, que não se apaga, era simbólico. Significa que Edom seria destruída e teria sua punição, conforme profetizado. O fogo aqui também não tem que ver com tormento eterno, mas si, com destruição eterna. Tome o leitor a sério essa relação bíblica entre destruição e fogo simbólico e entenderá as várias expressões sobre fogo e semelhante no Novo testamento.

 

Marcos 9:44

Sobre Marcos 9:44, igualmente é preciso entender a simbologia e o vocabulário bíblico. Se sua Bíblia omite o texto de Marcos 9:44, leia os versículos 47-48. O texto fala que na Geena os vermes não morrem e o fogo não se apaga. Antes de tirar conclusões precipitadas, devemos entender que Jesus usava um vocabulário bíblico pré-existente citado em Isaías 66:24.

(Almeida Corrigida, Fiel ao Texto)  E sairão, e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror a toda a carne.

Está falando esse texto do inferno? O vídeo de Savioli mesmo informa que não, haja vista que ele disse que ninguém ainda estava no inferno. O texto de Isaías fala de que? De Cadáveres... sim, de homens mortos, prevaricadores. Ali o texto fala de gusano (verme) que não morre e de Fogo que não se apaga. Pense bem. São os vermes que dão fim num corpo, por decomposição. Fogo é aquilo que dá fim completo a algo por incineração. Os cadáveres não estavam ali para tormento eterno, mas sim, para eliminação completa.

O local dos corpos não num mundo infernal. Os judeus veriam os cadáveres ali na Palestina (“e sairão e verão os cadáveres”). Você acha que tem vermes imortais até hoje tem em Israel, e fogo que nunca se apagou desde aqueles dias até hoje. Claro que não. Simbolismo... Precisamos entender o simbolismo que decomposição (verme) e incineração (fogo) representam. Daí entenderemos por fim a Geena e o Lago de Fogo.

 

Apocalipse 20:10

E por que Apocalipse 20:10, não pode estar falando de tormento eterno no sentido literal, se o texto parece estar dizendo isso mesmo?

(Almeida Corrigida, Fiel ao Texto)  E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.

Porque continua havendo simbolismo aqui. Leia um pouco mais, até o versículo 14, e você mesmo vai entender sem muito esforço:

(Almeida Corrigida, Fiel ao Texto)  E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte.

A morte não é alguém, é um substantivo abstrato. Se o Lago de Fogo e Enxofre é um local para tormento eterno, dia e noite literalmente falando, o que a morte vai fazer ali? Deus vai atormentar um substantivo abstrato? Como se “lança” a morte nesse lago, se não for explicar isso figurativamente? Como lançar o Hades/inferno no Lago de Fogo pra atormentar ele?

Além de ser absurdo pensar nesses lançamentos de um modo mais literal, o próprio João já como que nos alerta “Pessoal, esse lago de fogo não é um lago de fogo hein... ele está representando algo, ele é a Segunda Morte”. Quem é lançado nesse lago sofre uma morte de eliminação completa, conforme fomos lembrados nas profecias que mencionam o fogo.

A Segunda Morte é uma morte, mas uma morte de onde não tem volta, não há ressurreição. É uma morte eterna, por isso, é um castigo eterno ou um julgamento eterno. Que esse castigo seja morte e não sofrimento, é a ideia que se percebe quando voltamos ao começo do homem...


Porque o inferno como vida eterna em sofrimento no sentido comum da palavra não é bíblico

Quando Deus criou Adão, ele informou o homem sobre as bênçãos ou a punição que viriam em caso de obediência ou falta dela. Esse era um dos melhores momentos para deixar claro que o humano iria para um inferno no sentido de viver eternamente em agonia. Mas o  que vemos?

Em Gênesis 2:7 Deus fala sobre a desobediência, no caso em questão, concentrada na questão de comer ou não um fruto.

Gen 2:17  Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Almeida, Fiel ao Texto).

Note que o castigo ali informado era a inexistência, a morte, o que faz muito sentido para um Deus justo, mas amoroso. Ele não tinha o desejo de fazer Adão sofrer indefinidamente, mas sua justiça o fez eliminar um desobediente.

Além disso, Paulo, o apóstolo, lembra que existe uma correspondência entre pecado e morte, e não entre pecado e sofrimento eterno.

Rom 6:23  Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor. (Almeida, Fiel ao Texto).

O mesmo texto acima reforça uma mensagem importante: A vida eterna não é uma maldição, do tipo que seria melhor estar morto do que vivo (como seria num inferno). A vida terna é uma benção, uma graça, um dom gratuito que Deus nos oferecer por meio de seu filho, o Senhor Jesus.

Deus poderia ter criado um inferno para sofrimento eterno dos impenintentes?

É o que o autor do vídeo nos faz pensar. Ele ainda lança a pergunta de por que as criaturas acham que podem questionar o criador e soberano de tudo. É uma pergunta que tem seu valor. Deus tem o direito de estabelecer o certo e o errado. Mas é óbvio que a criação do inferno para tormento eterno traz implicações inescapáveis:

Pense no que significa sofrer eternamente. Pensou em sofrer terrivelmente por 5 mil anos? Bem isso não é muito, porque esse sofrimento nunca acabaria. Pensar que qualquer um deva sofrer eternamente por causa de erros causados numa vida de algumas décadas distorce qualquer, sim, qualquer senso de justiça. A ideia de que alguém sofra tanto e para sempre é perturbadora. Mas pensar que ela está nessa situação por ordem divida vai em choque contra a ideia de que “Deus é Amor” (1 João 4:8).

Deus tem poder e autoridade para criar essa situação? Tem, mas as implicações morais são inerentes e não há como fugir delas.  Veja as perguntas suscitadas pelo teólogo católico Hans Küng: “Observaria o Deus de amor . . . por toda a eternidade esta infindável, desesperançada, impiedosa, desamorosa, física e psicologicamente cruel tortura de suas criaturas?” ...  “É ele um credor tão empedernido? . . . Que pensaríamos de um ser humano que satisfizesse sua sede de vingança de modo tão implacável e insaciável?”

Quem faz uma afirmação não conhece um Deus que nos pede para amar até nossos inimigos. Não acha contraditório um Deus que nos pede isso enquanto tortura eternamente os inimigos Dele?

O que você aprende da justiça de Deus que em Êxodo 21:23-24 se preocupa com o equilíbrio na aplicação da pena? Será que ele disse “Olho por vida”? Será que ele disse “Vida de um por Família inteira de outro”?  O Deus bíblico é um Deus magnífico no seu equilíbrio, no seu amor, e na aplicação da justiça. Não é um Deus bobo contra o qual se pode mofar. Mas nunca seria o Deus que criaria um inferno à maneira do vídeo que citamos nesse texto.

 

APÊNDICE

Palavra G622 de Stong:

ἀπόλλυμι

apollumi - ap-ol'-loo-mee

From G575 and the base of G3639; to destroy fully (reflexively to perish, or lose), literally or figuratively: - destroy, die, lose, mar, perish.

Total KJV occurrences: 92

27.8.19

LOGOMARCAS MACABRAS - Comentários sobre o vídeo do Canal Interessante


Este artigo visa comentar os argumentos do vídeo LOGOMARCAS MACABRAS, do canal Interessante.

Trata-se de um vídeo com argumentos sobre marcas de grandes empresas, e procura provar que os dono fizeram pactos com o demônio por analisar suas marcas. Se fizeram ou não este blog não vai analisar, no entanto, é certo que muitos desses argumentos são baseados em puro achismo, coisa que pessoas cristãs devem evitar.


HELLMANN´S

O vídeo faz a recorrente alusão ao "Homem do Inferno". Como o vídeo mesmo disse, Hell em inglês é inferno. Infelizmente, as pessoas que fazem tais acusações sequer tomam o cuidado de estudar a real origem do nome que está na marca: O sobrenome do fundador da empresa. A ironia reside no fato de que o americano que a fundou é descendente de alemães. A palavra, então, não deve ser traduzida do inglês, porque é alemã, e em alemão Hell significa Brilhante.

Homens não se traduz como "mans", mas como "men".

Que tem uma palavra alemã que ver com o significado em outra língua? Além disso, o sobrenome do homem era esse. O sobrenome de um antepassado meu era Hartkopf (Cabeça-Dura), e muitos usaram esse sobrenome para designar empresas, sem querer dizer que são ou que acham que outros são cabeças-duras.
O nome da empresa tem um apóstrofo, que faz com que o significado seja "A maionese do Hellmann", só isso.

GOOGLE

Sem pretender entrar na questão das cores da marca, é preciso lembrar que existe um número chamado GUGOL, que é esse: 10.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 (1 seguido de 100 zeros)

Talvez perceba que o nome do número parece meio infantilizado. Quem criou o nome foi o filho de uma matemático (Veja aqui). O importante no entanto é que gugol é um número incrivelmente alto. A criatividade da empresa Google (mesma pronúncia que gugol) reside no fato de que ela vinculou o nome da sua empresa a esse número, dando a entender que um busca em site devolveria um número incrível de resultados (gugol resultados).

No entanto, o vídeo LOGOMARCAS MACABRAS não se preocupou em estudar nada, só em fazer acusações infundadas, e bebendo de maluquices criadas anteriormente, simplesmente dividiu o nome na marca em duas partes, assim:
GO - Vai
OGLE - Comer com os olhos

Realmente, não pareceu nada muito satânico. Mas o incrível nesse caso foi a criatividade em separar o nome da empresa, vasculhando para achar algo que não está lá.


COCA-COLA

A alegação feita no vídeo é de que se colocarmos a marca de trás pra frente, vemos Alô Diabo. Que tem uma marca criada por falantes da língua inglesa que ver com um suposto "Alô Diabo" em português? Se fosse a intenção, fariam uma marca que de trás pra frente criaria palavras que fariam sentido em inglês. Transilvânico-nico-nico-nicoooo...


APPLE

Muitas teorias foram criadas para explicar a origem dessa marca, as duas principais talvez sejam as duas mencionadas no vídeo. O site Segredos do Mundo menciona outra, relacionada ao fato de um dos cérebros da empresa preferir alimentar-se de frutas, o que resultou na escolha de uma para empregar na marca. Seja como for, ninguém cita uma fonte confiável para dizer ao certo porque a marca é assim. O canal faz conjecturas, e depois apresenta suas próprias conclusões baseadas no seu achismo como verdade.

PEPSI

A Pepsi nasceu em uma farmácia, como um medicamento para combater a dispepsia. Com certeza o leitor já conseguiu enxergar aí o motivo da empresa chamar-se Pepsi.

Mas nada disso interessou ao criador do vídeo: Ele colocou Pepsi ao contrário e leu "Is ded", está morto. Depois faz uma ligação que só existe na cabeça de criadores de boatos que o leva até Jesus. Muita imaginação.


Não vou comentar sobre outras marcas, porque acho que essas são as mais marcantes, mas as ligações são assim frouxas, ou não são motivos alguém de fé se importar: Nike é uma deusa, ok, mas os nomes dos planetas também são. Deveria isso alertar algum cristão, que olhando para os astros, aponta para Júpiter e fala o nome do deus romano, equivalente do grego Zeus?
Que cada um julgue por si mesmo.

Agora vou receber o dinheiro que as grandes empresas destinaram ao meu blog para que eu as defenda...

8.7.19

O LIVRO DE ENOQUE


Este artigo tem a intenção de analisar a autenticidade do livro de Enoque. Com autenticidade queremos dizer ser um livro biblicamente canônico e de autoria do próprio Enoque.

SOBRE O LIVRO


Existem pelo menos três livros de Enoque, e todos são diferentes entre si. Não são simplesmente traduções diferentes, são livros totalmente diferentes que usam o nome do afamado personagem bíblico para chamar a atenção. O mais conhecido desses livros é o 1 Enoque, também chamado de Enoque etíope, já que nessa língua ele foi preservado completo.
Parece ter sido um livro bem conhecido nos dois séculos que precederam a vinda de Cristo. Na caverna de Qumram, onde se acharam os Rolos do Mar Morto, havia também fragmentos do livro, provando que ele era difundido entre muitos judeus.


PORQUE O LIVRO CAUSA TANTO INTERESSE


O livro de Enoque suscita curiosidade porque, segundo Gênesis 5:24, "Deus o tomou". Desse trecho o imaginário popular judeu tirou muitas conclusões, e uma tradição curiosa se formou em torno do homem que, segundo muitos, "foi para o céu" (transferido ou trasladado, Hebreus 11:5). Quantos segredos poderiam ter sido revelados a um homem que esteve no plano transcendente? Que revelações um livro escrito por tal homem poderia conter? Não é a toa que um suposto livro escrito por Enoque gera tanta curiosidade.
Há quem diga que o ponto não é necessariamente Enoque ter "ido aos céus", mas ele ter "andado com Deus" (Gênesis 5:24). Entendem um tanto literalmente a passagem e acham que Deus e Enoque discutiam sobre os segredos do Universo e Deus lhe revelava mistérios e acontecimentos futuros. Por isso, além de conhecimento científico superior, Enoque supostamente soube de muitos outros segredos. Por exemplo, ele teria sabido não só o nome do principal anjo caído, mas de 20 desses chefes dos demônios.


A AUTORIA


Parece difícil crer que Enoque teria escrito 3 livros diferentes, espalhados em diferentes direções, de modo que em línguas diferentes só um deles sobreviveria inteiro. No entanto, poderia ter sido o livro que sobreviveu no idioma etíope antigo, o mais famoso dos três, ter sido escrito por ele?
Muitos que estudam a datação desse livro se baseiam nas conclusões de George W.E. Nickelsburg e James C. Vanderkam, que escreveram um livro chamado "1 Enoch: The Hermeneia Translation". Os autores afirmam que o Livro dos Vigilantes começou a ser escrito no terceiro século. A enciclopedia do Cristianismo, em inglês (De Fahlbusch e Bromiley) aponta como sendo aproximadamente do ano 100 aC a seção chamada Livro das Parábolas.
Vemos aqui a dificuldade que o defensor da autoria de Enoque terá para provar sua declaração. Um livro que levou séculos para ser escrito poderia realmente ter sido escrito por Enoque, que viveu séculos. Mas ele não viveu nos séculos que imediatamente precediam a Cristo. O aparecimento do livro foi gradual e só a partir do 3º século aC, mas se tivesse sido escrito por Enoque (e tivesse sido salvo por Noé no dilúvio), quando reaparecesse no 3º século, ele apareceria de uma vez, já inteiro, pois sua escrita já teria sido concluída. O aparecimento gradual do livro pesa contra a ideia de que foi Enoque que o escreveu.


A CANONICIDADE


"Por que o livro foi removido do Cânon bíblico?" Alguns perguntam. Não foi removido, porque nunca esteve nele. A tradição judaica não o lista entre os livros aceitos como inspirados por Deus. Malaquias, do 5º século aC, é aceito como o último livro canônico do Velho Testamento. Livros posteriores, como os dos Macabeus ou aquele que chamaram de Enoque, não figuram nas listagens dos inspirados.
O livro foi aceito pela igreja copta, uma ramificação da cristandade que se enraizou no Egito e influenciou a região, da qual a Etiópia faz parte. Por isso o livro sobreviveu inteiro no idioma deles. A aceitação pela igreja copta foi facilitada pelo fato de que alguns judeus locais já aceitavam o livro, antes do cristianismo entrar na região.
Há um argumento de que foi o rabino Shimon bar Yochai (Simeão filho de Yohai) que colocou os judeus contra o livro de Enoque. A ideia é de que o livro era considerado canônico até que Simeão forçou sua remoção, ou repúdio. Mas a tradição judaica já tinha suas listagens de quais livros eram aceitos como canônicos antes disso, e Simeão filho de Yohai era do segundo século depois de Cristo. Ele não poderia ter influenciado o passado, obviamente.
Além disso, o espírito santo, atuando de maneira milagrosa no primeiro século (vinda de Cristo, pentecostes de 33 dC e outros atos milagrosos) também atuaria no sentido de direcionar os cristãos para os livros autênticos. Os primitivos cristãos não deixariam de usar um livro canônico por influência um líder de outra religião, um rabino judeu.
Obviamente, quem despender tempo na leitura do livro de Enoque precisará estar atento ao inteiro Cânon Bíblico. Um livro não pode estar desalinhado como todos os demais.
Muitas supostas citações ao livro de Enoque, por outros livros não passam de citações da própria bíblia. Há quem afirme que Hebreus 11:5 cita o livro de Enoque. Na verdade cita Gênesis 5:24. Outra dessas citações é analisada abaixo.


CITADO NO LIVRO JUDAS?


"Como pode um livro não canônico ter sido citado pela carta de Judas?" - Eis a pergunta que tenta mostrar que o livro é inspirado, já que é citado por outro, reconhecidamente inspirado. Trata-se de Judas 1:14 que muitos entendem que foi retirado do livro de Enoque. A pergunta faz sentido, haja vista que um dos argumentos usados para comprovar inspiração é um livro ser citado por outro reconhecidamente inspirado.
É muito possível que fontes não canônicas tenham preservado informações verdadeiras, depois usadas por escritores inspirados. Os nomes dos sacerdotes egípcios, Janes e Jambres, não estavam no Velho Testamento, mas Paulo os citou numa carta a Timóteo (2 Timóteo 3:8). Estêvão sabia que Moisés tinha 40 anos quando fugiu do Egito, informação não contida em Êxodo.
Havia um "Livro da História da Época dos Reis de Judá/Israel" (2 reias 14:19, 29), um livro com dados importantes (ou mais de um), que mesmo sendo citado nos livros canônicos, era um livro meramente histórico. Não é impossível que os escritores bíblicos tenham lançado mão de tais escritos para compor os escritos sagrados. Claro, o espírito santo permeava tudo, não permitindo que informação errônea penetrasse nos livros inspirados.
O ponto é: se a citação de Judas é tão parecida com a do livro de Enoque, é porque da mesma fonte que Judas bebeu, os escritores do chamado livro de Enoque podem ter bebido.
No entanto é muito seguro dizer que Judas na verdade usou trechos da própria bíblia. Que Enoque era o sétimo da linhagem de Adão é fácil afirmar, porque Gênesis traz essa informação. E Judas mencionar que Deus viria com seus milhares de anjos também não seria incomum, haja vista que Deuteronômio 33:2 traz similar linguagem.

ENOQUE ANDOU COM DEUS


Muitos acham ser óbvio que alguém que andava com Deus deveria ter um livro com seu nome. Claramente, não é assim que funciona. Abraão foi chamado de amigo de Deus. Quer maior intimidade que isso? Mas não podemos entender com isso que Abraão e Deus saíam juntos para se divertir e um contava seus problemas e alegrias para os outro num bate papo descontraído. Também não podemos acreditar que ele deveria ter um livro em seu nome só porque era amigo de Deus. E isso não dá o direito de alguém escrever um livro séculos, ou até um milênio depois, e colocar o livro de Abraão e depois dizer que é óbvio que o livro é canônico porque Abraão era amigo de Deus.
Noé também andava com Deus (Gênesis 6:9). Então todo o frenesi que Enoque causa por causa de suas "andanças" com Deus, deveria estar voltado para Noé também, e ele deveria ter um livro com seu nome. Sem dúvida, Noé não andava com Deus num sentido muito literal, assim como foi com Enoque. É uma expressão que mostra que tais servos de Deus, trilhavam o caminho da orientação divina.

ENOQUE FOI PARA OS CÉUS?


Não. A fonte dessa negativa é o senhor Jesus. Quando estava na Terra, ele disse que nenhum homem na ocasião havia subido aos céus (João 3:13).
Com isso em mente, como deve ser entendido Hebreus 11:5? Vivendo num mundo pré-diluviano violento e pregando contra os ímpios, Enoque poderia sofrer violentamente nas mãos deles. Claro que o imaginário popular prefere acreditar que ele foi transferido para o plano transcendental, os céus, e lá continuou vivendo. Mas não podemos contradizer a Cristo. A palavra grega em questão é μετατίθημι e ela principalmente se refere a transferir algo ou alguém... mas entre outros significados, pode se referir a uma mudança ou troca de lado. Mudança da terra para o céu? Ora, mudar da vida para a morte também é uma mudança. Transferência do imanente (aqui) para o transcendente (céus)? Segundo o Cristo, não. Então pode ser transferência da condição de vivo para a de morto. "Deus o tomou", diz Gênesis 5:24.
Num mundo onde as pessoas tinham uma sobrevida incrível, Enoque não morreu de causas naturais nem foi assassinado. Sua morte foi causada por Deus.

Conclusão


As pessoas atualmente gostam de teorias da conspiração e de ideias que contrariam o que acham entendimento comum. E estudos nessa direção podem trazer novidades interessantes mesmo. Não é o caso agora.
O livro de Enoque evidentemente nunca esteve no cânon bíblico. Suas seções foram escritas em períodos de tempo diferentes entre si e diferente da época em que ele viveu. Ele andou com Deus num sentido menos literal que muitos preferem crer e sua ida aos céus não ocorreu, pois "Deus o tomou" quer dizer que Deus o fez adormecer na morte, poupando Enoque do mundo ímpio e violento que o cercava.

12.2.19

O LEVIATÃ BÍBLICO

Esse artigo comenta o Leviatã, criatura mencionada na Bíblia e comentada nos vídeos LEVIATÃ, A CRIATURA MITOLÓGICA CRIADA PRA LUTAR CONTRA DEUS!! (Clique para assistir), do canal Universo Curioso e Leviatã, o PIOR monstro da Bíblia (Clique para assistir), do canal Fatos Desconhecidos.

Os vídeos comentam o que seria Levitã, sincretizando várias explicações, segundo crenças variadas. A intenção desse artigo não é dizer o que seria o Leviatã segundo outras formas de fé, mas sim, o que ele seria dentro da bíblia.


O QUE É O LEVIATÃ

Os vídeos falam que o Leviatã é uma criatura mitológica. Para dar um resposta rápida para quem quer ir direto ao ponto: Talvez seja uma espécie específica, mas o mais provável é que seja qualquer ser marinho de tamanho de grande porte e força, como um grande crocodilo ou uma baleia.
A Bíblia também usa o termo simbolicamente para referir-se a um grande poder que ameaça seu povo.


ONDE ELE APARECE NA BÍBLIA

Algumas bíblias mantiveram a palavra transliterada (veja em subtítulo abaixo como era a palavra em hebraico). A versão Rei Jaime (King James) e muitas outras bíblias trazem a palavra "Leviatã" em Jó 3:8 e 41:1. Também no Salmo 74:14, 104:26 e Isaías 27:1

Nos textos bíblicos, o Leviatã costuma estar associado ao mar, por isso, entende-se ele como uma criatura aquática.

Em Jó 3:8 e 41:1 talvez ele possa ser identificado com o Crocodilo.

No Salmo há chance de o Leviatã ser uma baleia.

Em Isaías 27:1 o Leviatã é um ser serpentino que seria combatido por Deus. Isso permite identificá-lo com Satanás, que é descrito em Apocalipse como um "dragão" e "antiga serpente".

LEVIATÃ EM DICIONÁRIOS DE HEBRAÍSTAS

A palavra hebraica é לויתן, que se pronuncia livyâthân.

O "Brown-Driver-Briggs'  Hebrew Definitions", em inglês, oferece as definições:
1) Leviatam, monstro marinho, dragão.
   1a) animal aquático largo;
   1b) talvez o extinto dinossauro, plesiossauro, significado exato desconhecido

Jamais poderia o plesiossauro ou um dinossauro estar vivendo nos dias dos escritores bíblicos.

O "Strong's Hebrew and Greek Dictionaries" atribui o valor H3882 à palavra, e informa que ela deriva da palavra H 3867, que significa "unir, juntar-se. A palavra H3882 (Leviatã) recebe, entre outras definições, a de um "uma serpente (especialmente o crocodilo ou algum monstro marinho gigante); figurativamente a constelação do dragão; também como um símbolo de Babilônia).

CONCLUSÃO

Esse é o Leviatã. Figurativamente pode ter sido uma nação ou o próprio Diabo. Literalmente foi algum animal marinho forte grande. Provavelmente mais de uma espécie. Mas não é um animal fantástico, de extremo poder, que poderia desafiar o próprio Deus.

4.1.19

A Queda de Lúcifer: Mistérios da Bíblia - Documentário History Brasil

Este artigo tem a intenção de comentar e corrigir quando necessário um vídeo do Canal History Channel intitulado A Queda de Lúcifer: Mistérios da Bíblia (clique para assistir no youtube).

O Vídeo sem dúvidas acerta quando fala que Satanás tentou rivalizar com Deus. Mas e quanto ao próprio nome Lúcifer, existe na Bíblia?


A Bíblia e o Nome Lúcifer

A palavra Lúcifer ocorre uma única vez na Bíblia, em Isaías 14:12. Segundo o dicionário de Strong, trata-se da palavra hebraica הֵילֵל (H1966), que deriva de uma palavra que entre outros sentidos, traz a ideia de brilho. Strong diz que significa a "estrela da manhã" e depois ele menciona a palavra latina Lúcifer.

Essa foi a palavra usada na vulgata latina para traduzir H1966: Lucifer.

O Easton's Bible Dictionary (1897), de M.G. Easton, informa que a palavra latina significa "Estrela brilhante, um título dado ao rei de Babilônia, para denotar a glória dele. (escrito em inglês, tradução minha)"

Então Isaías 14:12 não está falando do Diabo, mas de um rei humano.

A versão Almeida Fiel ao texto usa a palavra "estrela da manhã".

A Bíblia inglesa Bishops usa a palavra "Lucifer"

A Nova Bíblia Latino-Americana de Hoje emprega a palavra "Luzeiro (Lucero)"

A Versão Padrão Inglesa usa os termos "estrela do dia (Day Star)".

A versão italiana Nuova Riveduta traduz por "astro matutino (astro mattutino)".

Aqui vemos que não havia um nome próprio, mas sim, uma referência à estrela da manhã, para ilustrar a grandeza do monarca babilônico.

A Queda de Satanás

O documentário erra ao dizer que a queda não está na Bíblia e que vem de lendas. Se por "queda", devemos entender uma queda literal, na verdade a guerra entre as forças de Satanás e de Deus (lideradas pelo arcanjo Miguel) está relatada em Apocalipse 12:7-9. Não foi uma guerra no começo dos tempos, porque nos dias de Jó, Satanás tinha livre acesso aos céus (Jó capítulo 2). Apocalipse é um livre profético que aponta para o tempo do fim, não para eventos que se dão no começo de tudo. Não foi também uma guerra para tomar o lugar de Deus, porque isso Satanás sabia que não poderia fazer à força, sendo ele menos poderoso que o próprio Deus. O que houve então?

Houve ali a expulsão do Diabo dos céus, junto com seus demônios. Isso ocorre na época do fim, porque Apocalipse diz que ao Diabo resta pouco tempo depois desse evento. O documentário dá a entender que a guerra foi fruto da soberba do Diabo, que tentou pela força tomar o lugar de Deus. Na verdade aquela é uma guerra de iniciativa divina, liderada pelo arcanjo Miguel e Satanás guerreava para manter-se onde estava e evitar a expulsão, não para tomar o lugar de Deus.

Mas se com queda o documentário referia-se a uma queda simbólica, um desprestígio, ela também está descrita na Bíblia, implicitamente demonstrada por vermos sua condições descaída em sentido espiritual e oposta a Deus.

No entanto o documentário acerta ao falar que ele foi soberbo ou orgulhoso, porque de fato ele pretendeu rivalizar com Deus. 1 Timóteo 3:6, ao falar sobre designações de bispos, lembra que estes não devem ser neófitos (novatos), para que não se encham de orgulho e caiam "na condenação do Diabo". Essa é uma clara demonstração do que causou a ruína de Satanás: o orgulho.


Outras declarações errôneas

Sobre o Diabo ser a criatura mais amada por Deus: Não foi. Deus considera Jesus de modo especial. Colossenses 1:13-20 mostra claramente que Jesus goza de posição privilegiada. Na verdade já tinha essa posição antes mesmo de obedecer o pai e resgatar a humanidade. Ele é o primogênito de toda a criação. Tudo foi criado por ele e para ele. A Bíblia nunca disse que Satanás gozava dessa posição ímpar, de ser a mais amada criatura.

Sobre o Diabo deixar "seu trono infernal para seduzir" humanos: Na ocasião do engano direcionado à Adão e Eva, o Diabo ainda não havia sido lançado para baixo. Mais tarde no livro de Jó, no capítulo 2, como já dissemos, ele ainda tinha um lugar nos céus, pois assim como os anjos apresentavam-se perante Deus, ele também fazia isso (Jó 2:1). Ele ainda tinha seu posto nos céus, mesmo que tinha permissão para perambular pela Terra. Muitos anjos tinham tarefas relacionadas com a Terra, haja vista que falaram com homens em nome de Deus, taparam boca de leões ou dizimaram exércitos (como o assírio, nos dias de Ezequias).

Assunto para outro debate, mas que não é a intenção desse artigo, afirmamos também que não existe um trono do Diabo num inferno de fogo. Portanto, ele não saiu de um trono infernal para seduzir Eva.


A Parte Final do Documentário

O documentário faz acertos importantes, à luz da Bíblia, quando fala do pecado original: Não fala de sexo, mas de soberba. Pois foi isso que o Diabo instilou em Eva em Gênesis capítulo 3. E foi soberba da parte dela querer ser como Deus. Sexo? Deus queria que humanos tivessem relações sexuais, já que ele mesmo orientou-os a se multiplicarem.

Além disso, o documentário acerta ao falar que o Diabo continua manipulando o homem, e que Deus fez os humanos com livre arbítrio.

10.10.18

FATOS DESCONHECIDOS - 5 trechos da BÍBLIA que foram TRADUZIDOS ERRADOS

NO dia 09 de outubro de 2018, o canal FATOS DESCONHECIDOS publicou um vídeo no youtube com o tema: 5 trechos da BÍBLIA que foram TRADUZIDOS ERRADOS.

Como sempre, o assunto gerou uma enxurrada de opiniões conflitantes. O vídeo foi claramente gravado por quem não sabia do que falava, e mesmo os roteiristas poderiam dar melhores informações, sobre onde na bíblia estão os trechos em questão ou quais as fontes dos comentários. Gostaria de saber um pouco mais sobre os erros (ou não) que o vídeo comentou?

Vamos analisar aqui 3 dos 5 textos mencionados pelo vídeo:


JOÃO 8:1-10 "Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. "


O primeiro dos erros de tradução mencionados no vídeo abordam a famosa passagem na qual uma mulher apanhada em adultério é trazida para apedrejamento, e Jesus profere a famosa frase que acima. 

Antes de abordar o assunto propriamente dito, precisamos mencionar a falta de perícia dos produtores do vídeo ao dizer que "a passagem foi incluída inicialmente no evangelho grego chamado códice". Códice não é um evangelho, códice é um manuscrito cujas folhas foram ajuntadas e amarradas ao longo da dobra, e recebem uma capa. É um avanço em relação ao rolo e foi um grande passo em direção aos livros modernos, pois facilita o transporte e a busca por trechos de uma obra, comparando com o desajeitado rolo. Dizer que há um evangelho chamado códice é o mesmo que dizer que há um evangelho chamado "Rolo", ou "Livro".

Falando sobre o trecho em questão, o comentarista bíblico Cyrus Ingerson Scofield, em sua obra Scofield Reference Notes (1917 Edition), afirmou que ele (tradução minha do inglês) "não é encontrado em alguns dos manuscritos mais antigos."

Como exemplo de manuscritos em que o trecho está ausente, pode-se citar o a Bíblia do Sinai, ou Códice sinaítico. O Códice sinaítico siríaco (IV e V Séculos d.C.) e o Códice sinaítico א, que está no Museu Britânico, são manuscritos gregos antigos. Neles, como comentamos, o trecho está ausente. O Manuscrito Vaticano 1209, também grego e do IV século d.C., que está em Roma, também não traz o trecho em questão.
O mesmo se dá no Códice Ephraemi Rescriptus, que se encontra na Biblioteca Nacional da França.


Mateus 1:25 - Primogênito?

Se Jesus é o primogênito (primeiro gerado), parece óbvio dizer que ele teve irmãos, caso contrário ele seria unigênito (filho único) e não primogênito. Por isso, parece razoável entrar na discussão de se Mateus 1:25 o chama somente de filho, ou de primogênito, haja vista que muitos crêem que Maria permaneceu virgem.

Muita discussão pode haver na tradução de Mateus 1:25. A católica versão Ave-Maria reza: "E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus."

A versão Almeida Revista e Atualizada também traduz por "filho" a palavra em questão.

A Almeida Fiel ao Texto traduz por "Primogênito".

Uma pesquisa em algumas traduções revela que uns usam "Filho", outros usam "Primogênito":

(Darby)  and knew her not until she had brought forth her firstborn son: and he called his name Jesus.

(1899 Douay-Rheims)  And he knew her not till she brought forth her first born son: and he called his name Jesus.

(Standrd Version)  but knew her not until she had given birth to a son. And he called his name Jesus.

(La Biblia de Las Americas)  y la conservó virgen hasta que dio a luz un hijo; y le puso por nombre Jesús.

(Nova Versão Internacional)  Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. E ele lhe pôs o nome de Jesus.

(1909  Reina-Valera)  Y no la conoció hasta que parió á su hijo primogénito: y llamó su nombre JESUS.

Não cremos ser necessário entrar em debate sobre qual tradução é melhor, porque o trecho correspondente ao de Mateus 1:25, que é Lucas 2:7, é pacífico na sua tradução: Analisando 20 traduções diferentes, inclusive as acima citadas e a Católica versão Ave-Maria, TODAS trazem a ideia de que Jesus é o primogênito.

Versão Ave-Maria: "E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria"

Então, se as traduções em Mateus deixam margem para entender que Jesus pode não ser um primogênito, Lucas remove qualquer traço de indagação, pois as versões que discordam em Mateus, concordam em chamá-lo de primogênito em Lucas.

Além disso, a questão gira em torno de se Maria continuou ou não virgem. Ora, Mateus 1:25 deixa claro que José não conheceu (sexualmente falando) Maria ATÉ ela ter seu filho. O "Até" mostra uma mudança de situação. "Esperei por você até as 17h", ou seja, depois deixou de esperar.

Veja Mateus 1:25 em várias traduções e preste atenção na preposição até (negritos nossos)

(ACF)  E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus.

(ARC1995)  e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe o nome de JESUS.

(ASV)  and knew her not till she had brought forth a son: and he called his name JESUS.

(BBE)  And he had no connection with her till she had given birth to a son; and he gave him the name Jesus.

(EMTV)  but did not know her till she brought forth her firstborn Son. And he called His name JESUS.

(GNB)  But he had no sexual relations with her before she gave birth to her son. And Joseph named him Jesus.

(ISV)  He did not have marital relations with her until she had given birth to a son; and he named him Jesus.

(LBLA)  y la conservó virgen hasta que dio a luz un hijo; y le puso por nombre Jesús.

(RVG10-R)  pero no la conoció hasta que dio a luz a su hijo primogénito; y llamó su nombre JESÚS.

(VIVA)  Porém ela permaneceu virgem até seu Filho nascer; e José deu-Lhe o nome de "Jesus".

Ou seja, a palavra em Mateus 1:27 pode ter sido, originalmente, filho ou primogênito. Isso não faz diferença para provar se Jesus é ou não o primeiro de outros filhos de Maria, ou para provar que ela não permaneceu virgem, já que:

1) Lucas 2:7 deixa claro que Jesus é primogênito. A dúvida da tradução de Mateus 1:27 não paira nesse versículo de Lucas. Então Jesus é primogênito. Ora supõe-se que todo primogênito tem irmãos, já que não fosse o caso ele seria um unigênito (filho único).

2) Se José não teve relações com Maria ATÉ Jesus nascer, é porque depois ele teve. Senão o evangelista diria que José não teve relações com ela ATÉ morrer, e não somente até Jesus nascer.

Dizer que Jesus não teve irmãos e portanto Maria permaneceu virgem é impossível, pelo entendimento bíblico. José teve relações com ela, e Jesus foi o primogênito entre seus irmãos.

Oração do Pai-Nosso

O primeiro erro está em dizer que os discípulos pediram a Deus que os ensinassem a orar. Eles pediram a Jesus. Muitos podem dizer que dá no mesmo, já que afirmam que Jesus e Deus são a mesma pessoa. Não são. Deus enviou, Jesus é o enviado.

Sobre a chamada "doxologia", aquele arremate na oração em que se glorifica a grandeza e majestade divinas, continua incluída em algumas versões bíblicas.

(Almeida Revista e Corrigida, 1995) "E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém! " (Grifo meu)

O comentarista bíblico Henry Alford comentou na obra Henry Alford's The New Testament que as autoridades antigas omitiram o trecho em questão e manuscritos antigos não o contém. Depois ele afirma que o manuscrito Peshitto contém o trecho, e questiona desde quando. Para Henry, a Peshitto talvez não tivesse esse trecho originalmente.

A obra "Cambridge Greek Testament for Schools and Colleges", ao comentar o versículo 13 de Mateus 6, diz que o trecho em questão, a chamada doxologia, foi uma inserção retirada da liturgia, e é ausente nos manuscritos mais antigos, como o Sinaítico e o Vaticano 1209 (IV Século). Então parece que ela migrou dos costumes para dentro da Bíblia.

A doxologia está faltando em versões latinas antigas, como a Vulgata. Está ausente nos manuscritos mais antigos. Como não estava nas versões latinas, os chamados pais latinos da igreja ignoraram a doxologia em seus comentários e obras esse trecho.
Gregos também silenciam sobre isso, quando comentam a oração do Pai-Nosso. Ou seja, os indícios apontam para a ideia de que a doxologia não estava lá originalmente.






Sobre o Artigo “ As evidências de que Jesus teria tido mais do que 12 apóstolos” , do G1   No dia 24 de julho de 2023, o G1 trouxe um ar...